domingo, 13 de dezembro de 2015

Aprendizagens inesperadas



Não há dúvidas que, para quem começa a jardinar ou cultivar legumes sem qualquer conhecimento, os livros são muito úteis. Em parte, eu também tive de passar por essa fase e, em alguns temas, ainda estou nela. Mas, é difícil bater a experiência no que toca a fontes de aprendizagem. 

Quando o nosso pensamento anda embrenhado em culturas, variedades, plantas companheiras, sementeiras sucessivas para garantir a continuidade, pode parecer difícil parar por um pouco e dedicar algum tempo a observar o comportamento das plantas e dos animais, benéficos ou não, que fazem do jardim a sua casa. Mas isso é, talvez, uma das partes mais fundamentais quando se trabalha com plantas. E nos momentos em que reparo em algo de que nunca me tinha apercebido, quase parece que a minha mente ultrapassa mais uma barreira. 

Este Verão, as minhas nabiças foram severamente castigadas pelo escaravelho. Pouco delas tirei. Como não uso fitofarmacêuticos, estava fora de hipótese usar um insecticida. Além do mais, o mal já estava feito. Mas, como diz o velho ditado, "conhece o teu inimigo melhor que a ti mesmo". Por isso, lá fui estudar o ciclo de vida do escaravelho para compreender uma forma de evitar a repetição do erro. Mas, porque o escaravelho ataca, não só as nabiças, mas todas as brássicas (nabos, couves, bróculos, etc), receei que os escaravelhos se expandissem aos bróculos. Curiosamente isso não aconteceu. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Certo dia, reparei na forma como o escaravelho voava; voava baixo e ao longo de curtas distâncias. Entre os bróculos e as nabiças eu tinha semeado dois canteiros grandes de feijão de trepar que, depois de crescido, formou uma barreira muito alta e densa para o escaravelho conseguir chegar até aos bróculos. Poderá não ser verdadeiramente assim, mas compreendi que se existissem barreiras densas e altas entre as culturas, os insectos indesejados têm mais dificuldade em chegar a todas as plantas.


Mais recentemente, enquanto retirava algumas ervas daninhas dos meus nabos, reparei numa borboleta branca que se preparava para depositar os seus ovos entre os nabos. Entre os três canteiros que tenho, reparei que ela apenas se dirigia àquele onde os nabos nasceram em maior quantidade. Ao longo dos dias reparei que outras borboletas faziam o mesmo. Concluí que a borboleta se sente mais atraída pelos locais onde a disponibilidade de alimento é maior. Nos canteiros onde os nabos narceram de forma errática, existiam menos plantas, portanto menos alimento. Além disso, ao ter as plantas mais espaçadas, deixa de haver abrigo seguro para as pestes e cria-se espaço aberto no qual os predadores naturais, como os pássaros, podem facilmente detectar as suas presas.

Bem, resta dizer que na agricultura industrial, porque a intenção é a maximização da produção e, portando, do ganho, a opção pelas monoculturas torna as plantas alvos fáceis às pragas. Não há barreiras naturais contra o avanço dos insectos indesejados e a grande concentração do mesmo tipo de planta num grande espaço transforma estas culturas num verdadeiro manjar para as pragas. Por isso, venha daí o insecticida.