domingo, 29 de janeiro de 2017

Fritillaria imperiallis


Se há bolbo que nos últimos tempos tem vindo a gerar muita curiosidade entre os jardineiros portugueses, é a Fritillaria imperiallis. Há muito cultivada nos países do norte da Europa, por cá, o interesse é recente, mas cada vez maior. Esta sim é a verdadeira Coroa Imperial, e não os lírios.



Contudo, fruto do desconhecimento, oiço muitas vezes pessoas que não as conseguem cultivar. Nem sequer nascem. Até hoje, já cultivei a minha favorita Fritillaria meleagris e a Fritillaria persica, mas a F. imperiallis continua a escapar-me. Por isso, este ano decidi experimentar. A variedade que plantei chama-se "Aurora".

Fritillaria meleagris
As causas para tanto insucesso podem ser várias: muitos bolbos podem vir contaminados com fungos e doenças, que conduzem ao seu apodrecimento após serem plantados; posicionamento do bolbo no solo de forma errada; plantação em solos inadequados, como os solos argilosos, pesados, ensopados e com má drenagem ou plantação na altura errada. 




À excepção de algumas espécies, as fritilárias preferem solos com boa drenagem. Gostam de Invernos frios e, tal como a maioria dos bolbos, padecem facilmente com o ataque de fungos. As fritilárias devem ser plantadas quando o tempo arrefece, pois tal como as túlipas, se forem plantadas em solo húmido e ainda quente, podem ser facilmente atacadas por fungos e apodrecem. Na realidade, tenho encontrado frequentemente os bolbos à venda logo em meados de Setembro, o que é demasiado cedo para eles. Muitas pessoas plantam-nos logo de imediato. Ora, nessa altura, o solo está demasiado quente para os bolbos, o que pode provocar a sua morte por desidratação. Se forem regados, o calor e humidade podem favorecer a proliferação de fungos que apodrecem o bolbo. Para quem guarda o bolbo até o frio chegar, acontece frequentemente ver que já está mole, semi-desidratado e com bolores que evidenciam a existência de fungos. O melhor, será comprar o melhor bolbo possível quando estão à venda (grande, firme e sem indícios de fungos), guardá-lo num sitio fresco e aguardar até à chegada do frio pela plantação. No que toca ao apodrecimento, a existência de boa drenagem ajuda a prevenir esse problema, já que o bolbo não fica "afogado" em água. Além disso, os bolbos das fritilárias têm uma característica muito especial: possuem uma cavidade no seu interior. Por isso, o bolbo deve ser plantado de lado, e não em pé, caso contrário, a água entra nessa cavidade e, como não consegue sair, pode apodrecer o bolbo. 

A característica cavidade no centro do bolbo. 

Porque o meu solo é muito argiloso, húmido e pesado, tem tudo menos boa drenagem. Por isso plantei-as em vasos de cerâmica (é porosa e, por isso, melhora a drenagem; vasos de plástico não são a melhor solução para plantas que requerem boa drenagem durante o Inverno). Utilizei uma mistura de composto feita por mim próprio: composto de folhas, areia e composto de compra. O composto de folhas suaviza a textura do composto e evita a compactação; a areia melhora a drenagem, e o composto de compra providencia uma nutrição extra para o bolbo. Coloquei o bolbo fundo no vaso e de lado. Agora, é só esperar que a Primavera estenda a sua mão e faça a sua magia!  

O bolbo plantado de lado para impedir que a humidade se aloje no seu interior. 



domingo, 1 de janeiro de 2017

O primeiro encontro

Há alguns meses atrás tive a oportunidade de conhecer o Gonçalo Santos que, tal como eu, é um grande apaixonado por plantas. Rapidamente nos tornámos bons amigos e, quase todos os dias trocamos ideias e dúvidas. Se eu não consigo viver sem os meus legumes, frutas e flores, o encanto dele são as plantas aromáticas. Tal é este encanto que ele criou o blogue "Something in the yard", através do qual ele dá a conhecer a sua colecção de plantas e partilha conhecimento, não só sobre elas mas, acima de tudo, como cuidar delas. Um excelente blogue, posso dizer.

Mas nos últimos tempos o Gonçalo está a ser atacado pelo bichinho das flores. O pelo menos assim parece. Nas últimas duas semanas é rara a conversa em que ele não me fale em bolbos. No fim de contas, estas conversas acabam sempre por me levar a memórias de mim próprio. O meu fascínio, desde os meus 5 ou 6 anos sempre foram os legumes. Mas, num certo dia, deparei-me com uma carteira de sementes de aquilégia e fiquei de olhos postos na fotografia. Foi amor à primeira vista. Aquelas, foram as primeiras sementes de flores que alguma vez lancei à terra.

Aquilégias um ano depois da sementeira: as felizes culpadas de uma paixão tão grande!


Depois disso, as minhas leituras sobre horticultura, levaram-me a descobrir que as flores podem ser um aliado precioso no controlo de pragas que afectam os legumes durante o seu crescimento, como também a atrair os insectos benéficos. Rapidamente percebi que as flores tinham o potencial para transformar qualquer horta monocromática e austera num espaço bonito, aprazível, relaxante e cheio de vida. E, sem me aperceber, a febre pelas flores ficou e nunca mais partiu. Ainda me recordo das primeiras flores que comprei como se fosse hoje. Melhor, ainda me recordo da sensação de alegria e plenitude que aquelas primeiras flores me deram. Numa manhã de Fevereiro de 2014, enquanto o céu ameaçava chuva, fiz uma tranquila caminhada por entre olivais, camomilas e alamedas de ulmeiros e azinheiras até ao centro de jardinagem próximo de minha casa. E de lá saí com vasos de pelargónios, bocas de lobo e salva roxa. Vinha apaixonado, feliz e crente de que a minha felicidade estava ali. Tudo o que precisava estava ali, na caixa que trazia no braços. Esta alegria está bem guardada na minha memória e, sempre que os dias parecem testar a minha resistência, recorro a ela por conforto.

Um dos pelargónios que trouxe comigo. Aquele rosa matizado em tom pastel arrebatou-me assim que o vi na loja. 

Claro que, no fim de contas, o bichinho das flores tornou-se incontrolável (felizmente). Hoje, procuro plantas raras, procuro plantas em risco de extinção; procuro plantas que, pelas suas exigências de cultivo, me fazem aprender e conhecer melhor o solo, as plantas, o clima, assim como os equilíbrios naturais de que elas dependem para crescer. E isso, quando transportado para a horticultura, é conhecimento valioso, pois permite-me cultivar legumes com melhor qualidade, menos trabalho e menor impacto ambiental.