sexta-feira, 27 de março de 2015

Clematite "Nelly Moser"

A clematite é uma daquela plantas que trepam que só pode acrescentar charme ao jardim. Aqui, eu tenho a clematite "Nelly Moser". A meio da Primavera produz flores bem grandes, com pétalas bordadas de branco e centros rosa. 

Porém, cultivá-las em Portugal é, sem dúvida, um desafio. Elas detestam solos secos e temperaturas altas. Por isso plantei-a à sombra, virada para norte, e não parei de a regar durante todo o verão, por vezes mais do que uma vez ao dia. Tinha dias em que lhe dava um regador de 10 litros sem que ela se chateasse minimamente com isso. Na cova que fiz para a plantar adicionei um bom balde de composto e, no fim, coloquei no solo uma boa cobertura de cascas de madeira para o manter fresco. 

É claro que poderia ir para as clematites do grupo texensis, que são nativas do Texas e convivem bem com o calor e com sol directo. Pessoalmente nunca as vi à venda por cá. Ou então, poderia ir para as clematities viticella, uma espécie nativa de Portugal, mas que infelizmente é mais uma daquelas plantas nossas que não se vêm à venda nos centros de jardinagem. 

Por enquanto, mal posso esperar para a ver inundar a copa do limoeiro com aquelas grandes flores branco rosa. 




Aqui está ela de volta este ano.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Um cantinho especial

As florestas são o meu espaço natural favorito. Adoro aquela oscilação entre sombra e luz, o gorgolejar escondido de um ribeiro oculto, o som do vento nas copas das árvores, o secretismo e misticismo de uma floresta densa, as neblinas que por vezes repousam sobre as copas das árvores e os ocasionais pingos de água que caem das folhas, o cheiro do solo, o orvalho, as plantas que por ali crescem e os pássaros que chilreiam. É um espaço singular com o qual sonho muitas vezes, e no qual adoraria viver. Uma simples e idílica cabana seria o melhor lar que alguma vez poderia ter. Por isso, este ano decidi trazer um pouco desse ambiente para o jardim. 

Aproveitei as árvores existentes e as sombras para criar algo semelhante àquilo que encontraria na floresta. Aqui perto do jardim encontrei partes de uma antiga oliveira cuja madeira estava já esburacada e em decomposição. Estavam no estado ideal. Coloquei-os no jardim, debaixo de uma árvore, e enchi os espaços vagos com solo no qual plantei anémonas. À volta, plantei imensos bolbos: narcisos, íris reticulata, frésias, túlipas, ranunculus, etc. É verdade que alguns, como as frésias, nada têm a ver com os ambientes arborizados, mas aqui entrou o critério pessoal. E claro, as frésias são a minha flor favorita. Por isso, a sua presença era obrigatória. Plantei também fetos, miosótis, ciclamens, dedaleiras, campânulas e aquilégias alpinas. Pelo meio ainda tenho uma bela clematite "Nelly Moser" que, apesar de ser difícil de cultivar no nosso clima quente, sobreviveu bem ao nosso Verão e já está cheia de folhas e futuras flores. 

Pelo meio fiz também um pequeno caminho de pedra ladeado por plantas colocadas de forma bastante informal: narcisos, camomilas, primulas, ipheion, margaridas, crocus, entre outros bolbos e plantas. Como eu queria que o espaço se aproxima-se daquele ambiente informal e natural que se vê nos campos e florestas, deixei o espaço propositadamente "descuidado" para permitir o surgimento de plantas selvagens.


Narcisos "Winston Churchill" e "Ice Follies"

Narciso "Ice Follies" a acordar.

Leucojum aestivum

Narcisos "Ice Follies" e "Mount Hood"

Anemonas blanda e de Caèn por entre os troncos de oliveira.

As cores da camomila combinadas com os narcisos. Uma ideia a continuar nos próximos anos. 

Anemona blanda

Narciso "Mount Hood"

Anemona de Caèn

Anémonas a crescerem entre os troncos de oliveira.

Muscari armeniacum com uma Prímula em pano de fundo.

Camomilas com uma Prímula atrás.
Camomilas e Prímulas a ladear o caminho de pedra. 

Ciclamen




sexta-feira, 6 de março de 2015

A importância medicinal do solo

Nesta publicação eu poderia exemplificar o caso de uma pessoa, em casa, que diz para alguém que está com ela que vai à farmácia. E, para espanto da pessoa que fica em casa, a pessoa que saiu não pegou nas chaves do carro para ir à farmácia, mas sim na sua pá de jardinagem e foi meter as mãos na terra. Estranho não?

Na realidade não. Um estudo publicado na revista "Neuroscience" chamado “Identification of an Immune-Responsive Mesolimbocortical Serotonergic System: Potential Role in Regulation of Emotional Behavior” e que data já de 2007, mostra que existe uma associação benéfica entre a bactéria Mycobacterium vaccae existente no solo, e a saúde mental e física humana. A base do estudo partiu uma da vez mais da percepção de que o aumento significativo de doenças nas últimas décadas, como as alergias, de devia à progressiva esterilização dos ambientes em que vivemos. 

De acordo com a equipa de investigação, liderada por Christopher Lowry da Universidade de Bristol, Reino Unido, esta bactéria tende a reforçar o sistema imunitário humano e a aliviar os sintomas da depressão. A bactéria, ao entrar no corpo humano, induz o corpo a aumentar a produção de serotonina, que é responsável pela sensação de felicidade. 

Bem, para nós, jardineiros, ver a ciência falar disto como um facto comprovável deixa-nos inevitavelmente como um sorriso na cara. É quase como se nos falassem de algo que para nós já não é novo, mas desta vez com a força e respeito da ciência. Não há nada como o repouso interior que se sente depois de um dia bem passado entre a terra, plantas e árvores. Em verdade, nunca ouvi falar de jardineiros (por paixão e não apenas por profissão) que sofressem de depressão. Creio que faltava apenas um toque de ciência para comprovar aquilo que o nosso instinto sempre nos disse. 

Há uns tempos, estava eu a ver o documentário da BBC "The Lost Gardens of Heligan", no qual, a certa altura, Tim Smit, o proprietário da quinta, falava, como quem fala de coisas importantes transformando-as em coisas naturais, que o suicídio era algo particularmente raro entre os jardineiros e que, entre eles, reconhecia a existência de uma calma e ritmo que irritaria qualquer um. 

Ainda um outro estudo, desenvolvido por Dorothy Matthews e Susan Jenks, defende que existe um relação entre o contacto com a Mycobacterium vaccae e o aumento da capacidade de aprendizagem. 

Curiosamente, dei por mim a investigar mais o assunto e deparei-me com um estudo da Fundação Champalimaud, liderado por Zachary Mainen, que concluiu que existe uma associação positiva entre a paciência e o aumento de serotonina. Uma vez mais identifico-me com estudo. Por vezes falo com outras pessoas sobre o prazer que é cuidar de plantas e do solo. Muitas dizem-me que nunca teriam paciência para esperar meses até que uma planta produza o resultado esperado, seja flor ou fruto. Bem, eu raramente penso sobre o resultado final, porque aquilo de que realmente gosto é do processo e do prazer que me dá ver uma planta nascer, cuidar dela, olhar por ela e vê-la torna-se feliz e adulta. 

Acho que gosto mais do momento em que, de uma pequena semente emerge uma planta. E para algumas, isso requer mesmo muita paciência. Muitas plantas, como as anémonas japonesas, podem levar meses a nascer. As clematites podem levar 2 anos a nascer; e um trilium, caso o consigam fazer germinar, pode levar 7 anos até dar flor. Isso sim é muita paciência. Mas quando germinam....que sensação...que alegria....quase parece que se subiu não um degrau, mas um andar na arte da horticultura. Mas no fim, prefiro não contar estes pormenores aos mais impacientes, porque aí é que acho que eles não iriam perceber nada desta paixão pelas plantas.

Mas no fim de contas, tudo isto nos mostra o quão importante é preservar a vida existente no solo e adoptar métodos e técnicas agrícolas que não ponham em causa a vida destes organismos. Isto porque não são apenas as plantas e os animais que estão em risco de extinção. O solo produtivo também está em risco de extinção.