terça-feira, 15 de novembro de 2016

A importância do frio no jardim


O Verão já lá vai, o Outono está aí e o Inverno está já ao virar da esquina. Com ele, a chegada de dias mais frios é uma inevitabilidade. Eu gosto de frio, mas acredito que sou uma excepção entre as excepções. Se falar de frio causa arrepios a qualquer um, cuidar de uma horta ou jardim com frio torna este simples pensamento ainda menos apelativo. Mas, na realidade, o frio é fundamental para as plantas que temos no nosso jardim, para as árvores dos nossos pomares ou para os legumes das nossas hortas.

O frio é necessário para induzir certas plantas, como as herbáceas, a entrarem em hibernação. Sem hibernação, estas plantas simplesmente não conseguiram acumular energias nas suas raízes para um crescimento extra-vigoroso na Primavera.

Também no jardim, há certas plantas, cujas sementes dependem de Invernos frios para quebrarem a sua dormência e germinarem. A família das ranunculáceas, dentro da qual as Anémonas são um bom exemplo, ou a família das apiáceas, dentro da qual se incluem as Astrantias, são um bom exemplo. Sem o frio, estas sementes aprofundarão a sua dormência e nunca germinarão.

O equilíbrio da Natureza nas regiões temperadas depende também da existência de Invernos frios. O frio é um agente natural de controlo da população de pragas que, de contrário, aumentariam em número e poderiam colocar seriamente em causa a viabilidade da agricultura nas regiões temperadas. Por isso, o frio é um dos preciosos aliados de todos aqueles que seguem a agricultura biológica.

Muitas árvores, arbustos ou plantas que produzem os frutos que tanto apreciamos necessitam de frio para maximizar a sua produção. O frio permite às árvores e plantas recuperarem energias do exigente processo de frutificação. Árvores como as cerejeiras, as macieiras, as pereiras, as nogueiras, os pessegueiros, as ameixeiras ou os damasqueiros dependem, em menores ou maiores quantidades, de um determinado número de horas de frio, ou seja, temperaturas abaixo dos 7 graus Celcius. O mesmo acontece com plantas como os morangueiros, os mirtilos ou as framboesas. Isso explica o porquê de culturas, como a da cereja, apenas serem possíveis em certas partes do nosso país.


Para quem sente falta do sabor genuíno dos alimentos que cultivamos, então, em muitos casos, o frio é um dos seus melhores aliados. Apesar de estarmos habituados a ter os mesmos alimentos disponíveis todo o ano nas prateleiras dos supermercados, tudo em agricultura é sazonal. E, certas culturas, cuja época de cultivo é o Inverno por excelência, reagem ao frio adquirindo sabores mais delicados e aprazíveis. Por exemplo, os nabos, os grelos, as couves, o alho francês, as pastinacas ou a cenoura, ficam mais tenros e doces com o frio.

Sem frio, a agricultura em regiões temperadas correria o risco de colapso e, com ela, a nossa sociedade poderia ter o mesmo destino. Por isso, quando sentir os arrepios de uma manhã fria, pense positivo e lembre-se que o frio está cá por uma boa razão.




segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Cuidados com plantas herbáceas no Outono


O Outono é uma daquelas alturas em que o jardim requer uma atenção redobrada. Em especial, as plantas herbáceas necessitam já de alguns cuidados. São plantas de vida longa, perenes e que crescem em tamanho ano após ano. Com as primeiros frios, as folhas e caules morrem, enquanto que a raíz fica em dormência no solo, a recuperar energias para o próximo ano. Com a Primavera, ela volta a despertar com o todo o vigor.

Gaillardia aristata

Hellenium
Cuidar de herbáceas é relativamente simples, se forem seguidas algumas regras. Para plantas ainda jovens, plantadas este ano, o mais importante é garantir que a planta está limpa de quaisquer resíduos vegetais para evitar apodrecimentos ou alojamento de doenças fúngicas. Evite qualquer perturbação das raízes pois, até a planta entrar em dormência, isso poderá fazer mais mal que bem.

Se a planta ainda está em floração nesta época do ano, como é o caso dos crisântemos ou dos áster, corte apenas os caules quando estes começarem a morrer por acção do frio. Até lá, aprecie as flores e faça o máximo para as prolongar. Mas não se apresse a cortar os caules, pois até morrerem por completo, a clorofila existente nas folhas estará a produzir alimento, que as raízes armazenarão e usarão para gerar o crescimento da planta na Primavera.

Scabiosa caucásica "Fama"
Quer a planta já esteja estabelecida, ou não, aplique também uma boa camada de composto em redor destas de forma a que, no início da Primavera, todos aqueles nutrientes tenham sido incorporados no solo pelos microrganismos e possibilitem um melhor crescimento das plantas e a saúde do solo em geral.

Por último, ou talvez o mais importante, se pretender mover a sua planta herbácea de local, ou dividi-la para obter novas plantas, importa ter em atenção a época de floração. Plantas de floração tardia, como as Equináceas, os Heleniuns, os Crisântemos, os Aster ou as Rudbéckias apenas devem ser divididas no início da Primavera, pois continuam a crescer e florir até aos primeiros gelos. Plantas de floração precoce, que completam o seu bailado floral durante a Primavera ou início do Verão, devem ser divididas aquando das primeiras chuvas de Outono, para que aproveitem o solo já húmido e ainda quente para estabelecerem as suas raízes. Isto é importante pois, por serem de floração precoce, iniciam o seu crescimento vegetativo logo no final do Inverno. É o caso de plantas como a Pulmonária ou a Astrantia. Depois de plantar as divisões, dê-lhes uma boa regadela, mesmo que o solo esteja húmido, e aplique uma camada de composto em redor da planta sem cobrir a coroa.

Equinacea purpurea
A divisão das herbáceas não tem apenas uma finalidade económica, com a possibilidade de gerar novas plantas a partir de uma só. A divisão é também feita por uma questão de rejuvenescimento e saúde. Isto porque as plantas herbáceas têm um desenvolvimento em forma de donut. Crescem de dentro para fora. Passados dois ou três anos sem serem divididas, o crescimento verifica-se apenas nas extremidades da planta, enquanto que a parte interior perde vigor. Quando a divisão for feita, a parte interior da planta deverá ser descartada e apenas as partes mais vigorosas devem ser replantadas.

As herbáceas são amigas para a vida. Se forem bem cuidadas, elas recompensar-nos-ão com anos de flores, alegria e contentamento. E só por isso vale bem a pena aprender um pouco mais sobre elas.



segunda-feira, 21 de março de 2016

Ao som da Primavera


Provavelmente, muitos de nós associam a Primavera ao rejuvenescimento da paisagem, ou à cor das flores que irrompem de repente e põem fim à austeridade invernosa. Mas a Primavera não se faz apenas de cor. Faz-se de sons. Nos regatos, ouve-se o som da água límpida e fresca que corre e, nas árvores que agora acordam do seu longo sono, os pássaros lutam por cada ramo. 


Miosótis

Aqui, no meu jardim, enquanto continuo com o meu trabalho com as plantas, é um prazer fazê-lo acompanhado pelo canto dos pássaros: melros, pardais, andorinhas, rouxinóis...São muitos e, todos eles, bem-vindos. E, à minha volta, o aroma das frésias perfuma o ar por todo o jardim, enquanto o vento ondula a erva que cresce agora forte e viçosa. Ainda há geadas, frio, chuva e céus cinzentos. Mas tudo isso complementa o charme e encanto da Primavera aqui no jardim. É um prazer estar no jardim e fazer dele o meu trabalho. É nestes momentos que me lembro de todas aquelas pessoas que trabalham em escritórios...  

Frésias, narcisos e ranúnculos.

E, pelo meio, claro que há flores. E muitas. Há frésias, íris, miosótis, narcisos, túlipas, pulsatilas, anémonas, fritilárias, crocus e imensas aquilégias. As frésias encontraram finalmente uma rival à altura. Adoro frésias, mas gosto cada vez mais das flores da família dos ranúnculos (ranunculaceas), como as aquilégias ou as anémonas. Alegra-me também ver que, com o crescimento dos dias e a combinação de chuva e de dias mais amenos, os vegetais crescem agora mais depressa. Dentro em breve não haverá cestas que cheguem para todas as colheitas a fazer. É que a Primavera traz com ela abundância. Por ela esperarei com expectativa.

Aquilégia.

Aquilégias e goivos.