sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Experiências com bolbos

Porque a época para a plantação de bolbos está quase no fim, aproveito para partilhar convosco as experiências que este ano estou a fazer com os meus bolbos, como os narcisos, os muscari, as túlipas, jacintos, etc. 

Antes de mais, importa deixar aqui algumas ideias sobre o cultivo de bolbos. Quer opte por um vaso ou por um canteiro, adicione gravilha ao solo caso ele não tenha uma boa drenagem. O solo não tem de ser muito fértil. Aliás, os bolbos contêm em si todas reservas de nutrientes de que necessitam para florir na Primavera seguinte. Por último, os bolbos devem ser plantados a uma profundidade duas a três vezes o seu tamanho. 

Aqui no meu jardim, tenho vindo a aumentar a colecção de bolbos. Mas este ano decidi fazer algumas experiências com bolbos em vasos. Porque cada bolbo requer uma profundidade de plantação diferente, decidi plantar várias espécies por camadas no mesmo vaso e, no topo, uma planta que não cresça muito. Assim, consigo ter diferentes combinações de cores no mesmo vaso e, com as plantas no topo, há sempre algo interessante para ver durante estes meses. Também estou a fazer experiências com a naturalização de bolbos. Deixem-me mostra-vos: 


Aqui, tenho túlipas vermelhas, jacintos azuis e as camomilas no topo. Quanto estiver no seu auge, este vaso ficará decorado com vermelhos, azuis, brancos e amarelos.

Neste vaso optei por colocar túlipas cor-de-rosa e, no topo, margaridas (Bellis perennis) cor-de rosa e brancas que não crescerão mais do que 15 cm de altura. Assim, durante a floração as túlipas ficarão por cima e, a adornar o vaso, estarão pequenos malmequeres brancos e rosas. No vaso de trás tenho túlipas vermelhas, muscaris azuis e camomilas.

Aqui fiz uma experiência diferente. A ideia é naturalizar os crocus entre a relva (que ainda não foi semeada devido à queda permanente das folhas das árvores). Assim, no final de Fevereiro, a relva irá aparecer com inúmeros salpicos de várias cores. Para naturalizar os bolos, não os coloque numa posição geométrica óbvia, como linhas rectas. Pegue numa boa mão cheia deles e atirem-nos para o chão. Plante-os no local onde caírem.



Ciclamen

Vem o Outono e toda a cor despede-se do jardim até ao próximo ano. Mas aqui e ali, começam a surgir agora alguns sinais de vida. Quando tudo dorme na expectativa do regresso da Primavera, é quando os ciclamens se mostram em toda a sua exuberância. 

Aqui no jardim, a população de ciclamens ainda é relativamente reduzida e discreta. Mas não por muito tempo. Este Verão comprei algumas plantas ainda bastante pequenas, e por isso bem mais baratas, para naturalizar sob a sombra de algumas árvores que estão na parte do jardim que estou a remodelar para a minha Carolina. Esta parte do jardim será a surpresa da Primavera. Quando estiver pronto e cheio de cor, mostrarei este novo cantinho do jardim. 

Desde que foram plantados, há coisa de um mês e meio, os ciclamens já cresceram o dobro e estão agora a encher-se de botões florais. A seu tempo, com a queda da semente, aquele cantinho ficará repleto de ciclamens. A ideia é recriar o ambiente em que eles crescem na Natureza.

Também no final do Verão consegui "roubar" duas cápsulas de sementes de um ciclamen que a minha mãe tinha e semeei-as logo de seguida. Hoje, tenho mais de 30 plantas novas. Um luxo, considerando que uma planta destas, quando adulta, custa entre 3 a 4 euros. 

Os ciclamens são plantas fáceis de cultivar e, quando felizes, providenciam cor durante semanas desde o final do Outono até ao início da Primavera. Alguns, como o Cyclamen hederifolium, têm uma fragrância deliciosa. Pensando nas florestas caducas do Mediterrâneo em que eles crescem, os ciclamens gostam de alguma sombra, especialmente nas tardes quentes de Verão. Para quem os cultiva em vaso, isso torna-se mais fácil porque é possível movê-lo de acordo com a posição do sol. Gostam de terras com boa drenagem e de ter as raízes húmidas mas não encharcadas, caso contrário podem ganhar doenças fúngicas e morrer. No Inverno podem cobrir o solo à volta das plantas com composto de folhas. Este composto não é muito rico em nutrientes e simula a queda das folhas no Outono.


Aqui estão eles num canto sombrio e abrigado, entre troncos de árvores para simular o seu habitat natural.

Um dos 3 tabuleiros de germinação que tenho agora repletos de pequenos ciclamens.  




 




quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Exemplos de uma economia mais comunitária

Falar sobre economia comunitária é um assunto que me é cada vez mais querido. Daí que, na publicação anterior, tenha partilhado aqui este tema por gosto, mas também com a intenção de espalhar a ideia pela importância que ela tem. 

Talvez agora se perguntem na percentagem de produtos locais que as nossas lojas e mercearias têm à nossa disposição. Possivelmente mais poderia ser feito. Claro que em Portugal já há boas iniciativas. Existe o programa PROVE e, mais recentemente foi criada a REDE AIA por um grupo de cinco aldeias do país que pretendem a valorização económica dos seus saberes e produtos locais. 

Não muito longe de nós, a economia comunitária já é uma realidade comum do dia-a-dia. Eis alguns exemplos: 

Na Escócia, a padaria comunitária de Dunbar surgiu da crença dos habitantes de que a produção local de pão é fundamental para o futuro sustentável da comunidade. Hoje, a padaria é propriedade de mais de 700 habitantes locais, e continua o seu trabalho de produção de pão artesanal de elevada qualidade e criando postos de trabalho dentro da comunidade. 

Em Yorkshire, na Inglaterra, a Jo Campbell, para além de ter uma horta invejável, vende os seus legumes aos restaurantes locais que apreciam a qualidade e frescura dos produtos da terra. Aqui está ela num dos episódios do Gardeners' World. Mas ela também não se fica por aí. Ela compra aos artesãos locais alguns materiais de que necessita. 

Também em Manchester existe agora uma cooperativa de produtores, a Manchester Vegpeople, que trabalha com os restaurantes da cidade para disponibilizar legumes frescos produzidos localmente. 

No Natural Veg Men os produtores utilizam técnicas biológicas e pouco intensivas em energia para disponibilizarem produtos sazonais frescos para a sua comunidade.  

Big Barn ajuda os consumidores em todo o Reino Unido a encontrarem alimentos de elevada qualidade junto de produtores locais.  

Ainda no Reino Unido, um dos meus heróis da jardinagem, o Alan Titchmarsh, em conjunto com a Waitrose, vão oferecer kits de sementes às escolas locais. Os produtos produzidos pelos alunos serão posteriormente vendidos por eles nos supermercados locais da empresa.

Se quiserem saber um pouco mais, podem ver este artigo do The Guardian que consegue dar uma boa panorâmica sobre a efervescência da economia comunitária no Reino Unido. Vale a pena ler.  

É verdade que boa parte destas iniciativas partem do sector agrícola. Mas não tem de ser apenas assim. Numa comunidade activa todos têm lugar, e os seus saberes são inestimáveis para o desenvolvimento de uma economia local próspera. 

Viver bem no campo com uma economia mais comunitária

Apesar de ter nascido no campo e aqui ter passado a maior parte dos meus anos, nunca me imaginei a viver noutro sítio. Sempre quis viver no campo, viver do campo e viver como o campo. Mas confesso que, por vezes, as vozes mais pessimistas têm alguma razão quanto às difíceis possibilidades de vida no campo. 

Porém, mesmo face às inegáveis dificuldades que hoje o interior atravessa, eu acho que existem todas as condições para se ter uma vida com elevados padrões de qualidade no campo. 

Sem dúvida alguma, a vida no campo é completamente diferente da vida urbana. O campo e a Natureza ensinam-nos a viver de forma pausada, a aproveitar o momento e a não viver de forma tão ansiosa. Mas ao mesmo tempo, mostra-nos que a qualidade de vida transcende as questões materiais. O campo não é um espaço de consumismo. Pelo contrário, aprende-se a viver melhor com menos. Porque o sentido da vida passa a estar nas pequenas coisas, nos momentos a sós ou em conjunto, na partilha e na oferta, na entre-ajuda. E tudo isso é belo por si só. 

Mas no fim de contas, há que admitir que a economia é quem mais ordena. Nos últimos tempos tenho lido muito sobre a economia comunitária. Não, não tem nada a ver com comunismo. A economia comunitária parte do princípio de que é possível existirem outros modelos económicos que podem dar resposta aos desafios do presente. Reconhece ainda a necessidade de princípios e valores éticos subjacentes à actividade económica, e a existência de interdependências entre os indivíduos de uma comunidade e entre estes e a Natureza. 

Na prática, uma economia local pode prosperar criando redes de produção e consumo locais partindo dos recursos existentes e do potencial humano da comunidade. O fundamento deste modelo económico não está na acumulação de capital, nem na produção de multimilionários, ou de empresas top 500. 

Este é um modelo de entre-ajuda, de criação de emprego, de emancipação da comunidade e de valorização das capacidades humanas e dos produtos produzidos localmente. Ao comprar produtos locais, a riqueza por nós produzida permanece na nossa comunidade. Assim, é possível criar postos de trabalho e manter actividades e saberes tradicionais locais que caso contrário poderiam desaparecer. 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

No Outono...

Falar de jardinagem não deve ser apenas sinónimo de tarefas. Para cada época do ano há que saber parar um pouco e apreciar aquilo que a Natureza nos oferece. 

Por aqui o Outono tem estado um pouco hesitante, mas finalmente as árvores, arbustos e plantas vestiram-se por fim com o seu traje de gala outonal e brilham agora, com vermelhos, laranjas e amarelos sob a doce e dourada luz de Outono. Aprovei-te, saia e encante-se. 



O meu Parthenocissus quinquefolia engelmanii (parra virgem) finalmente com as suas cores outonais.




Se tiver um pouco de espaço e apreciar esta despedida outonal das plantas, escolher algumas plantas cuja folha é, por si só, motivo de interesse ao longo do ano é bem merecedor do esforço. 

Dentro de um vasto universo de escolhas, plantas como os bordos japoneses (Acer palmatum) são, talvez, das mais apelativas pelos seus amarelos, laranjas e vermelhos. Se tiver espaço suficiente, pode optar por uma árvore. Mas se o espaço é uma limitação, opte por uma variedade anã. Deve apenas certificar-se que o arbusto recebe alguma sombra nos períodos de maior calor e, mais importante ainda, que é plantada num local abrigado face ao vento. 

Uma outra hipótese são as Árvores de Judas (Cercis siliquastrum). Cabem facilmente num pequeno jardim e, enquanto que no Outono as folhas são de um amarelo suave, na Primavera os seus ramos cobrem-se de inúmeras flores cor de cereja. 

Outras plantas, como as Fothergillas, Geranium psilostemon, Partenocissus (parra virgem), Hydrangea quercifolia (hortensia quercifolia) ou Berberis, são alternativas que completam este arranjo e que, dependendo do espaço, poderão dar um novo ânimo ao jardim durante o mais cinzento dos dias. 

À cor pode adicionar igualmente som. Sim, os jardins são de facto um espaço de estímulo para os sentidos. Caso tenha mais espaço, pode incluir igualmente algumas gramínias, como a nossa nativa Stipa gigantea. Não só reflectem gentilmente a luz de Outono, como as suas altas espigas produzem aquele som tão característico do vento sobre um campo de ervas secas e altas.  

Claro que, se quiser juntar o belo ao produtivo, pode optar por árvores de fruto. Árvores como as macieiras, os pessegueiros, as romanzeiras ou os dióspireiros não se ficam nada atrás de qualquer planta ornamental no que toca à cor outonal das suas folhas, e têm a vantagem de oferecer fruta ao longo do ano.   

domingo, 23 de novembro de 2014

Algumas tarefas para o Outono

Apesar de o Outono ser provavelmente a minha estação favorita, é também um período onde há muito para fazer no jardim. Antes mais, importa dizer que não tenho qualquer formação académica ou profissional em horticultura e jardinagem. Por isso, as dicas que aqui deixo derivam da minha experiência e daquilo que são as tarefas que eu habitualmente vou pondo em dia aqui no meu jardim. 

Assim, eis aqui algumas tarefas que, tal como eu, podem ir fazendo ao longo deste Outono: 

- está na altura de semear alhos, ervilhas, favas e de continuar a plantação de morangueiros;

- é igualmente uma boa altura para plantar alho francês e se ainda não plantou as cebolas de Inverno, ainda vai a tempo; 

- nas zonas mais amenas pode iniciar a sementeira de cebola em canteiros protegidos com uma cobertura de plástico para a plantação no final do Inverno;

- se está a pensar em transformar o seu jardim num espaço produtivo, esta é a uma boa altura para plantar árvores e arbustos de fruto. Mas não se esqueça, escolha a planta certa para o local certo;

- iniciar a preparação das terras para semear  no início da Primavera adicionando bastante matéria orgânica, como composto de jardim ou estrume;

- se tem arbustos que produzem bagas, como medronheiros, murtas, pyracanthas  ou azevinhos, opte apenas por podá-los quando as bagas caírem. Isso permite a existência de alimento para os pássaros durante o Outono e Inverno quando ele escasseia;

- se quiser atrair os pássaros para o seu jardim e apreciar o seu canto nas manhãs de Outono e Inverno, opte por alimentá-los. Encha um comedouro com cereais e coloque-o num sítio alto, como o ramo de um árvore, onde a comida não possa ser levada por animais indesejáveis;  

- colha as folhas das árvores que agora se acumulam no chão. Ao invés de as queimar, opte por transformá-las em composto de folhas. Coloque-as dentro de um saco, molhe bem as folhas e faça furos no saco para retirar o excesso de água. Ate bem o saco e deixe-o num canto esquecido do jardim. Dentro de um ano as folhas terão sido transformadas num composto de cor escura com uma textura leve.

- agora que o calor se foi e o Outono se mantém relativamente ameno, opte por propagar plantas antes que as primeiras geadas ponham em risco algumas das suas flores favoritas. Aqui no meu jardim eu tenho utilizado várias técnicas de multiplicação de plantas que me têm feito poupar imenso dinheiro e que me possibilitam obter (muitas) novas plantas de graça; 

- plante bolbos agora para uma Primavera florida. Antes de plantar o bolbo, escolha bolbos de bom tamanho e assegure-se que não têm bolor ou qualquer outra doença. Plante-os a uma profundidade correspondente a 2 a 3 vezes o tamanho do bolbo. Se o bolbo tiver 5 cm de tamanho, plante-o a 15 cm de profundidade. Verifique se o solo tem boa drenagem, caso contrário, os bolbos podem apodrecer no solo com as chuvas de Outono e Inverno. Pode adicionar gravilha ao solo para solucionar esse problema. No caso das túlipas, é importante que o solo seja alcalino/básico. Para tal, pode adicionar um pouco de pó de calcário ou cinzas;

- agora que as nossas lareiras voltaram a ter uso, não deite as cinzas fora. Elas são um precioso fertilizante para os solos. Pode usá-las cobrindo levemente o solo de plantas como as couves ou os alhos, ou pode guardar algumas para as suas plantações de Primavera/ Verão envolvendo a cinza na terra. Plantas como o tomate, o pepino, o pimento ou curgete apreciam o potássio existentes na cinza na medida em que este nutriente promove uma melhor frutificação; 

- remova as folhas caídas do seu relvado e das bordaduras. As folhas ao caírem, criam um tapete que impede a passagem de luz para as plantas em baixo que, caso não seja removido, pode apodrecer a relva e as flores;

- mantenha-se atento aos bolbos e tubérculos de plantas como as dálias, gladíolos, coroas imperiais ou tigrídias. Verifique o seu estado de conservação e esteja atento ao desenvolvimento de fungos que podem apodrecer os tubérculos;

- o Outono é tempo de manutenção do jardim. Por isso, garanta que as suas ferramentas, como enxadas, tesouras de podar ou serrotes estão bem afiadas, sem ferrugem e oleadas;

-se tem vasos de barro não utilizados, cuide deles. Remova qualquer terra existente, lave-os para retirar qualquer potencial doença existente no barro, e proteja-os do frio e da chuva para evitar que rachem; 

- esta é uma boa altura para podar roseiras, em especial as roseiras de trepar que podem ser danificadas pelos ventos fortes desta época. Contudo, se as suas roseiras estão num local abrigado e ainda em floração, não pode já. Aprecie as flores enquanto durarem e opte por fazer a poda em Janeiro. Quando podar, pode as plantas à altura do joelho. Contudo, se estas tiverem um crescimento irregular, corte as varas finas mais abaixo para que ganhem mais vigor e corte as mais robustas a uma altura maior para evitar que estas, ao produzirem novos rebentos na Primavera, não ganhem um vigor que impeça o crescimento dos rebentos mais delgados;   

- se estiver a planear a plantação de um nova roseira, assegure-se que o solo tem boa drenagem. Se o seu solo for muito barrento e pesado, adicione gravilha no fundo da cova. A principal doença de que as roseiras sofrem surge de um fungo que beneficia da má drenagem dos solos e que se instala nas folhas, produzindo manchas negras. Inevitavelmente, o fungo enfraquece a roseira diminuindo a floração e, a prazo, pode mesmo levar à morte da planta. Se as suas roseiras tiverem folhas com estes sintomas, deve retirá-las e, preferencialmente queimá-las para evitar a disseminação do fungo;


- o Outono é igualmente uma boa altura de colocar uma cobertura de matéria orgânica sobre os solos (mulching). Esta prática evita a o crescimento de ervas daninhas e melhora a fertilidade e estrutura do solo uma vez que, até à Primavera, a matéria orgânica irá naturalmente ser incorporada no solo;  

A plantar crocus. A ideia é naturalizá-los num pedaço do cantinho que estou a construir no jardim para a minha namorada e onde irá ser semeada relva. A ideia é que os crocus, ao florirem, deixem a relva sarapintada de várias cores. 

As minhas flores já com uma cobertura de composto.

Algumas das minhas dálias que foram retiradas do jardim, identificadas e prontas para serem guardadas numa parte escura do abrigo de jardim.


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O Campo

Quer seja Primavera ou Outono, Verão ou Inverno, passear pelo campo é sempre uma experiência única. Contemplar um campo repleto de flores selvagens é um prazer que me surpreende vez após vez. Embora na Natureza tudo seja deixado ao acaso e as plantas germinem de forma aleatória, por vezes dou comigo a apreciar combinações de flores selvagens cujas cores conseguem criar uma harmonia visual que me deixa repleto de inveja. 

Mas a magia vai muito para além disso. As paisagens campestres cativam pelo silêncio humano, pela harmonia, pela tranquilidade e paz que transmitem. Por aqui, chega Maio e os campos ficam coberto com um ondulante tapete de rosas, brancos, lilases, azuis, vermelhos e amarelos protagonizados por silenes, dedaleiras, camomilas, echiuns, salvias, borragem, tremoceiros, papoilas e malmequeres. A todas estas flores acrescem algumas orquídeas selvagens que felizmente ainda abundam por aqui. E quando não são os campos, são as árvores e os muros de pedra que se cobrem de musgos e fetos. 

Infelizmente, aqui na região tenho vindo a constatar uma crescente perda da diversidade de algumas plantas, em especial as papoilas que, quando eu era mais pequeno preenchiam o meu imaginário de como um campo deveria ser. Poderá não parecer muito, mas a perda desta diversidade é suficiente para colocar em risco todo o equilíbrio natural de que dependem as restantes plantas e animais que vivem neste ecossistema. E no fim, muito embora nos pareça inimaginável, esse desequilíbrio terá sempre consequências para todos nós. 

Por isso, por mais exóticos que sejam os nossos desejos quanto às flores que mais gostaríamos de ver no jardim, optem por guardar um cantinho para as nossas flores selvagens autóctones. Estarão a contribuir para a manutenção do equilíbrio natural e a vida selvagem agradece. 

Acredito que um jardim feito de flores selvagens pode parecer uma coisa muito vulgar e até com um aspecto pouco apelativo. Mas não tem de ser assim. Na próxima Primavera aproveitem. Façam passeios pelo campo, façam um pique-nique, tirem fotografias, vejam as combinações de flores e levem um saco de papel para colher as sementes das plantas que mais gostaram. No próximo ano, tentem repetir não só as combinações de flores, mas acima de tudo aquele ambiente campestre tão relaxante. 


Aqui esta o Monty Don, um dos meus heróis da jardinagem, em defesa das flores selvagens e a dar dicas sobre como trazer aquele ambiente campestre para os nossos jardins. 












terça-feira, 18 de novembro de 2014

Legumes, flores....e fruta

Fruta é um prazer sem o qual eu não poderia planear o meu jardim. Troco sem hesitação um chocolate por uma boa peça de fruta. Por isso, no ano passado, quando comecei a remodelar o jardim, incluir árvores de fruto no novo design do jardim tornou-se uma das principais preocupações. 

Para além da produção de fruta, as árvores cumprem muitas outras funções. Providenciam sombra, protegem o jardim dos ventos fortes e permitem a criação de microclimas. Além disso, durante a floração, no início da Primavera, os insectos polinizadores, como as abelhas, podem finalmente quebrar o longo jejum de Inverno. E no Outono, todas as folhas da árvore, ao caírem, criam as condições perfeitas para a hibernação de alguns animais, como os ouriços-cacheiros. 

Para mim, as folhas são uma dádiva da estação que junto em sacos. Pela mesma altura, no ano seguinte, estas folhas terão sido transformadas num substracto leve e arejado, óptimo para plantar bolbos. E claro, o Outono é a época de plantação de bolbos de Primavera como as túlipas, os narcisos ou os jacintos. Na natureza tudo parece estar sincronizado. 

Quando pensei em plantar árvores, queria ter a possibilidade de produzir alguns dos meus frutos favoritos, como nectarinas, mas ao mesmo tempo garantir que havia fruta durante uma parte significativa do ano, e que a época de maturação dos frutos não era coincidente. Assim, a juntar à laranjeira, tangerineira, limoeiro, dióspireiro e  nectarineiro existentes, plantei um damasqueiro ("Moniqui"), um nectarineiro de maturação precoce ("Early Top"), duas pereiras ("Rocha" e " Red Williams") e duas macieiras ("Royal Gala" e "Golden"). E pelo caminho ainda plantei duas framboesas, uma vermelha e outra amarela.  

No fundo, a ideia é a sucessão. Assim, depois das laranjas e tangerinas em Janeiro e Fevereiro, vêm os morangos em meados de Abril, seguidos pelas nectarinas no final de Maio, as ameixas vermelhas no início de Junho, os damascos em meados de Junho, as ameixas amarelas no início de Julho, as nectarinas no final de Julho, a pêra Williams em meados de Agosto, a pêra rocha no final de Agosto e as maçãs em Setembro. Os dióspiros virão logo a seguir em Outubro.



O nectarineiro "Early Top" acabadinho de plantar. Quando crescer, fará sombra ao abrigo durante o intenso calor das tardes de Verão. Foi uma pechincha. Por 2 euros comprei uma árvore que me vai dar quilos e quilos de fruta durante anos. Um quilo de nectarinas custa quase o mesmo. Não é muito difícil fazer as contas. 

Os morangos têm superado as expectativas ao longo destes dois anos. O canteiro foi coberto com uma grossa camada de folhas para impedir a perda de humidade do solo, o nascimento de ervas daninhas e o apodrecimento dos frutos. Quando se decompuserem, as folhas irão adicionar nutrientes ao solo e permitir a continuação de boas colheitas ano após ano.



Fiz também uma estrutura em canas para cobrir os morangos com uma rede para evitar que o ataque dos pássaros. Ser biológico é simples. E a recompensa é muitas vezes superior àquela que se espera.  

As ameixeiras e nectarineiros em flôr. Durante alguns dias senti-me num jardim japonês. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Um jardim produtivo

Quando me decidi a remodelar o jardim, queria que ele fosse, em simultâneo, bonito e produtivo. Recordo-me perfeitamente, quando cheguei a Lisboa em 2009 para estudar na faculdade, da ironia que se tornou ir ao supermercado comprar coisas que habitualmente cultivava na minha horta, como ervas aromáticas. Era um mundo novo mas não necessariamente o melhor. Apercebi-me do quão dependentes as pessoas estão de um supermercado para terem acesso às coisas mais simples. 

Desde então tornei-me num apologista da auto-suficiência. É claro que com a reduzida dimensão do meu jardim nunca conseguirei ser auto-suficente. Por agora, esse é um projecto a concretizar lá mais para a frente. Mas ainda assim, o jardim tornou-se numa verdadeira despensa. Frequentemente, dou por mim a correr até ao jardim para ir colher ingredientes a meio de um cozinhado. Noutras ocasiões chego a ter bem mais do que aquilo que necessito e acabo por oferecer ou vender o excedente. 

Não há nada melhor que produtos locais, sazonais e acabados de colher. E, a meio do trabalho no jardim, quando me dá a fome, não preciso ir muito longe. Recordo-me perfeitamente, neste Verão, de estar empoleirado na ameixeira enquanto comia tantas ameixas quantas me apetecesse, de apreciar nectarinas uma após a outra, de colher uma mão cheia de tomates cereja antes que os pássaros chegassem antes de mim, ou de me sentar à soleira da porta do abrigo do jardim pela manhã e comer uma boa tigela de morangos. Pois é...quando se tem um jardim a vida é bela.   

Na realidade, longe de ser um problema, a reduzida dimensão do jardim tonou-se numa oportunidade. Assim, desde o início optei por apostar na diversidade e não na produção em quantidade. E isso permite-me ter de tudo um pouco, como até fazer algumas experiências com legumes diferentes. 

Claro que no fim, o fundamento do jardim é a produção de alimentos. Contudo, vale a pensa pensar duas vezes nos legumes que optamos por cultivar. Desde a revolução industrial, no século XIX, uma quantidade vasta e preciosa de antigas variedades de legumes passaram a estar em vias de extinção apenas porque não têm as características que o sector agro-alimentar pretende. Assim, quis que o meu jardim, para além de belo e produtivo, fizesse igualmente parte do esforço de conservação destas variedades. 

Hoje, no meu jardim cultiva-se, ao longo do ano, uma quantidade apreciável de legumes que poucas ou nenhumas vezes se vêm no supermercado. Durante o Verão, tive quase 40 variedades de tomate, e muitas outras de pimentos, feijão, pepino, curgetes, brócolos ou abóboras. Por exemplo, fiquei bastante contente por ter conseguido a semente do tomate "purple calabash" cultivado pelos antigos índios maias na América Central antes da chegada dos europeus. Longe de estarmos limitados aos mesmos legumes de sempre que vemos no supermercado, cultivar diferentes variedades permite-nos ter uma alimentação mais diversificada, com maior qualidade e, como tal, isso reflecte-se numa melhor saúde.    



Os melhores tomates cereja que já tive. Os frutos e cachos tinham um bom tamanho. 


Tomate limão. Bonito, extremamente produtivo e saboroso. 

Outro excelente tomate: "purple Cherokee".

Tomate pêra amarelo. 

Pimentos da Hungria: nascem com este belo amarelo limão, passam a cor-de-laranja e finalmente ficam vermelhos. 

Aquilo que um jardineiro gosta de ver: uma planta saudável, feliz e produtiva.

Os morangos têm sido sensacionais no jardim. Para além de produtivos, consigo ter morangos desde Abril até meados de Novembro se não houver geadas. 
O campeão deste ano

Estes não sobreviveram ao almoço. Tomate limão juntamente com outras 5 variedades de tomate cereja.

Bróculo roxo.

Este foi um excelente ano de fruta. As ameixas estiveram melhores que nunca e os alperces superaram as expectativas. 

Um bom contraste

Apesar de alguns azares com as cebolas, ainda consegui uma boa mão cheia delas. 

Couve lombarda "Pé alto de Lisboa".

Os pimentos também não fugiram à regra deste ano. A colheita tem sido abundante.


Pimento "Chocolate Bell"






domingo, 16 de novembro de 2014

O abrigo de jardim

Uma das grandes transformações que o jardim sofreu no último ano foi a construção de um abrigo de jardim. E que útil tem sido. Para além das ferramentas, tornou-se no espaço ideal para guardar vasos, bolbos, tubérculos e para me abrigar da chuva quando, sem aviso ela cai bem molhada. Felizmente a corrida costuma ser curta. Noutras ocasiões, é o cantinho perfeito para me sentar na soleira da porta, beber uma caneca de chá e apreciar o jardim.




Quer seja pequeno ou grande, convém garantir uma boa arrumação do espaço e das ferramentas.