domingo, 13 de dezembro de 2015

Aprendizagens inesperadas



Não há dúvidas que, para quem começa a jardinar ou cultivar legumes sem qualquer conhecimento, os livros são muito úteis. Em parte, eu também tive de passar por essa fase e, em alguns temas, ainda estou nela. Mas, é difícil bater a experiência no que toca a fontes de aprendizagem. 

Quando o nosso pensamento anda embrenhado em culturas, variedades, plantas companheiras, sementeiras sucessivas para garantir a continuidade, pode parecer difícil parar por um pouco e dedicar algum tempo a observar o comportamento das plantas e dos animais, benéficos ou não, que fazem do jardim a sua casa. Mas isso é, talvez, uma das partes mais fundamentais quando se trabalha com plantas. E nos momentos em que reparo em algo de que nunca me tinha apercebido, quase parece que a minha mente ultrapassa mais uma barreira. 

Este Verão, as minhas nabiças foram severamente castigadas pelo escaravelho. Pouco delas tirei. Como não uso fitofarmacêuticos, estava fora de hipótese usar um insecticida. Além do mais, o mal já estava feito. Mas, como diz o velho ditado, "conhece o teu inimigo melhor que a ti mesmo". Por isso, lá fui estudar o ciclo de vida do escaravelho para compreender uma forma de evitar a repetição do erro. Mas, porque o escaravelho ataca, não só as nabiças, mas todas as brássicas (nabos, couves, bróculos, etc), receei que os escaravelhos se expandissem aos bróculos. Curiosamente isso não aconteceu. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Certo dia, reparei na forma como o escaravelho voava; voava baixo e ao longo de curtas distâncias. Entre os bróculos e as nabiças eu tinha semeado dois canteiros grandes de feijão de trepar que, depois de crescido, formou uma barreira muito alta e densa para o escaravelho conseguir chegar até aos bróculos. Poderá não ser verdadeiramente assim, mas compreendi que se existissem barreiras densas e altas entre as culturas, os insectos indesejados têm mais dificuldade em chegar a todas as plantas.


Mais recentemente, enquanto retirava algumas ervas daninhas dos meus nabos, reparei numa borboleta branca que se preparava para depositar os seus ovos entre os nabos. Entre os três canteiros que tenho, reparei que ela apenas se dirigia àquele onde os nabos nasceram em maior quantidade. Ao longo dos dias reparei que outras borboletas faziam o mesmo. Concluí que a borboleta se sente mais atraída pelos locais onde a disponibilidade de alimento é maior. Nos canteiros onde os nabos narceram de forma errática, existiam menos plantas, portanto menos alimento. Além disso, ao ter as plantas mais espaçadas, deixa de haver abrigo seguro para as pestes e cria-se espaço aberto no qual os predadores naturais, como os pássaros, podem facilmente detectar as suas presas.

Bem, resta dizer que na agricultura industrial, porque a intenção é a maximização da produção e, portando, do ganho, a opção pelas monoculturas torna as plantas alvos fáceis às pragas. Não há barreiras naturais contra o avanço dos insectos indesejados e a grande concentração do mesmo tipo de planta num grande espaço transforma estas culturas num verdadeiro manjar para as pragas. Por isso, venha daí o insecticida.    

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Experiências com legumes

Um dos truques para se ser bem sucedido (e reduzir custos) com o cultivo de legumes é encontrar a variedade certa para a época certa do ano. E por aqui tenho vindo a ganhar o gosto por fazer testes com várias variedades. 

É verdade que as informações na carteira das sementes já simplificam o trabalho da escolha, mas é incrível como as condições edafoclimáticas mudam de região para região, e isso, altera tudo. 

Por exemplo, cultivar cenouras é fácil, se lhes dermos as condições ideais. E se as condições não forem as melhores como, por exemplo, no Inverno? Por isso optei por experimentar duas variedades durante cerca de 2 meses, a "Giganta" e a "Chantenay", dando-lhes condições semelhantes às de Inverno, nomeadamente a redução de luz. Cultivei-as em vaso num local à sombra para simular as reduzidas horas de luz solar do Outono e Inverno. 

Resultados: a "Giganta" detestou a experiência. O crescimento foi irregular, fraco e a raiz mal se desenvolveu, o que a faz ser, parece-me, uma boa cenoura para dias mais longos, solarengos e quentes; para o Inverno talvez não seja a melhor variedade a escolher. 

A "Chantenay", descrita habitualmente nas carteiras como adequada para cultivos de Outono/Inverno, cresceu devagarinho, mas o desenvolvimento da raiz acompanhou o desenvolvimento da folhagem. No fim colhi meia dúzia de pequenas cenouras crocantes e saborosas que me deixaram mais confiantes quanto ao uso deste variedade durante o Inverno. 

Este teste não tem nada de científico e até posso estar errado. Mas foi interessante ver as plantas crescerem e poder comparar diariamente o desempenho de ambas. 

Pelo meio estou também a testar duas variedades de pepino: "Ashley" e "Marketmore". Já tenho alguns resultados que divulgarei no fim da experiência. 


sexta-feira, 19 de junho de 2015

O valor da semente

A preservação de sementes é uma das preocupações mais elementares para mim enquanto aspirante a jardineiro e horticultor. A semente é o princípio de tudo. Sem sementes, não há vida. Além do mais, preservar sementes, especialmente aquelas das variedades hortícolas regionais, significa garantir a existência de diversidade genética e, por sua vez, da biodiversidade tão importante para a preservação dos ecossistemas, como também do nosso próprio alimento. A história mostra-nos que, quando a diversidade genética das culturas agrícolas usadas se limita a um número muito restrito, aprofunda-se o risco de uma possível catástrofe alimentar. Se as condições ambientais se tornarem desfavoráveis às poucas variedades cultivadas, estas morrerão e, com elas também a nossa comida desaparecerá. Veja-se o que aconteceu na ilha da Páscoa há alguns séculos atrás. 

Ervilha "Golden Sweet"


Colher sementes torna-se ainda mais recompensador se compreendermos que a sua preservação é parte integrante de um ciclo natural muito maior, no qual a planta germina, cresce, providência alimento e abrigo e, depois de florir e frutificar, produz as sementes que irão garantir a geração seguinte de plantas que, uma vez mais irão providenciar alimento e abrigo para pessoas e animais. E no fim, a planta morre e decompõe-se, adicionando assim nutrientes ao solo. E no ano seguinte, o ciclo recomeça. E nesta cadeia de acontecimentos é bom ver que, nós humanos, podemos intervir enquanto agentes facilitadores deste ciclo e não como destruidores. 

Alface "Bijou"



Aqui no meu jardim, todas as sementes são colhidas depois de secarem naturalmente na planta e, de seguida, guardadas em sacos de papel que permitem a transpiração da semente e devidamente rotulados com o nome e descrição da planta. O que sobrou da planta vai para a compostagem onde, misturada com outros restos do jardim, me permitirá ter em alguns meses um fabuloso composto cheio de nutrientes para enriquecer o solo que irá alimentar a geração seguinte de plantas.

E no fim, é isto que se obtém: um composto escuro e nutritivo.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Novas sementes

Entre as várias tarefas que têm ocupado as últimas semanas, uma delas tem sido a selecção e encomenda de sementes. Nos legumes, a prioridade tem sido dada à diversificação das plantas cultivadas, à escolha de legumes adequados a cada estação e às variedades antigas em risco de extinção (heirloom/heritage). Por isso, agora tenho sementes de legumes dos quatro cantos do mundo: indianas, japonesas, continente americano, etc. A isso acresce novas plantas aromáticas que provavelmente ainda são desconhecidas por este pedaço de terra à beira-mar plantado. 

A escolha dos legumes foi também pensada de forma a escolher as plantas adequadas para a época certa do ano. O Inverno é talvez o período do ano em que as hortas estão mais vazias. Pois eu acho que a minha estará bem lotada. Quem já ouviu falar de malabar, de mizuna, minutina, alface "Amish língua de veado", feijão-ervilha, entre outros? A lista estende-se depois a variedades de melão, abóbora, ervilhas, favas, feijão, courgette, entre outros. Depois de ver isto, quem disse que a nossa alimentação está limitada à minúscula oferta de legumes que se vê no supermercado?

E porque também é fundamental preservar as antigas variedades que com o advento da agricultura industrial foram arredadas para o esquecimento e quase extinção (ou mesmo extinção em muitos casos), tenho variedades cujas origens recuam aos primórdios do século XX, ao longínquo século XIX ou até mesmo a séculos mais distantes. 

Nas flores, a prioridade tem sido dada a plantas com perfume e amigas dos polinizadores, a plantas raras ou a plantas pouco comuns nos nossos jardins. Aqui a dor de cabeça foi maior, mas lá tive de me controlar (por agora) porque há muito para escolher. Na maior parte dos casos optei por escolher plantas tradicionais e sem as quais eu não poderia ter um belo jardim, como as papoilas, as rudbeckias ou as dedaleiras. Mas porque eu gosto de um bom desafio, escolhi também algumas que estão um passo à frente daquilo que é a nossa habitual jardinagem, como as anémonas japonesas ou as astrantias. 

No fim tudo isto enriquece o meu jardim e fortalece o ecossistema ao redor dele. Mal posso esperar 

domingo, 19 de abril de 2015

Quando a Natureza dá uma mãozinha

A utilização de sementes híbridas é já uma habito frequente entre horticultores e jardineiros. Contudo, na Natureza, a produção de híbridos é uma constante entre as plantas devido à polinização cruzada. Basicamente, um híbrido consiste numa nova planta que surgiu como resultado da polinização cruzada entre duas plantas da mesma espécie. 

Aqui no jardim tenho algumas plantas que são muito propensas a criarem híbridos. É o caso das aquilégias, das dedaleiras, das helleborus, ou das phlox. Entre as hortícolas, o caso também é muito comum. Plantas como as alfaces, os tomateiros, os feijões, os pimentos e toda a famílias das curcúbitas (abóboras, courgettes, melões, melancias, pepinos, etc) são muito propensas a cruzarem-se entre si com a ajuda dos polinizadores (abelhas, borboletas, etc) e a criarem novas variedades. 

Claro que, com alguma prática, podemos dar uma ajuda à Natureza e criar novas variedades. Basta seleccionar plantas da mesma espécie que tenham certas características que se pretendem ter numa planta futura, retirar pólen de uma das flores e polinizar a outra. E, assim, passarão a ter variedades únicas no jardim que não existem em mais lado nenhum do mundo. Eu, pessoalmente, no que toca a flores, gosto de esperar por uma boa surpresa no ano que vem. Este ano, coloquei uma aquilégia branca de pétala simples junto de uma aquilégia dobrada cor-de-rosa. No prórimo ano irei colher a semente de ambas e, quem sabe, talvez me apareça uma aquilégia branca de pétalas dobradas ou uma aquilégia de pétalas simples matizada de rosa e branco. A ver vamos. 

Mas por agora, a surpresa deste ano são as Phlox drummondii. No ano passado tinha apenas 4 cores: branco, amarelo/manteiga, rosa claro e rosa escuro. Este ano, a variação de cores é fenomenal. Existem até flores lilases. Pergunto-me como o lilás lá terá ido parar. Não há dia em que me canse de olhar para elas. São fabulosas.  













sexta-feira, 27 de março de 2015

Clematite "Nelly Moser"

A clematite é uma daquela plantas que trepam que só pode acrescentar charme ao jardim. Aqui, eu tenho a clematite "Nelly Moser". A meio da Primavera produz flores bem grandes, com pétalas bordadas de branco e centros rosa. 

Porém, cultivá-las em Portugal é, sem dúvida, um desafio. Elas detestam solos secos e temperaturas altas. Por isso plantei-a à sombra, virada para norte, e não parei de a regar durante todo o verão, por vezes mais do que uma vez ao dia. Tinha dias em que lhe dava um regador de 10 litros sem que ela se chateasse minimamente com isso. Na cova que fiz para a plantar adicionei um bom balde de composto e, no fim, coloquei no solo uma boa cobertura de cascas de madeira para o manter fresco. 

É claro que poderia ir para as clematites do grupo texensis, que são nativas do Texas e convivem bem com o calor e com sol directo. Pessoalmente nunca as vi à venda por cá. Ou então, poderia ir para as clematities viticella, uma espécie nativa de Portugal, mas que infelizmente é mais uma daquelas plantas nossas que não se vêm à venda nos centros de jardinagem. 

Por enquanto, mal posso esperar para a ver inundar a copa do limoeiro com aquelas grandes flores branco rosa. 




Aqui está ela de volta este ano.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Um cantinho especial

As florestas são o meu espaço natural favorito. Adoro aquela oscilação entre sombra e luz, o gorgolejar escondido de um ribeiro oculto, o som do vento nas copas das árvores, o secretismo e misticismo de uma floresta densa, as neblinas que por vezes repousam sobre as copas das árvores e os ocasionais pingos de água que caem das folhas, o cheiro do solo, o orvalho, as plantas que por ali crescem e os pássaros que chilreiam. É um espaço singular com o qual sonho muitas vezes, e no qual adoraria viver. Uma simples e idílica cabana seria o melhor lar que alguma vez poderia ter. Por isso, este ano decidi trazer um pouco desse ambiente para o jardim. 

Aproveitei as árvores existentes e as sombras para criar algo semelhante àquilo que encontraria na floresta. Aqui perto do jardim encontrei partes de uma antiga oliveira cuja madeira estava já esburacada e em decomposição. Estavam no estado ideal. Coloquei-os no jardim, debaixo de uma árvore, e enchi os espaços vagos com solo no qual plantei anémonas. À volta, plantei imensos bolbos: narcisos, íris reticulata, frésias, túlipas, ranunculus, etc. É verdade que alguns, como as frésias, nada têm a ver com os ambientes arborizados, mas aqui entrou o critério pessoal. E claro, as frésias são a minha flor favorita. Por isso, a sua presença era obrigatória. Plantei também fetos, miosótis, ciclamens, dedaleiras, campânulas e aquilégias alpinas. Pelo meio ainda tenho uma bela clematite "Nelly Moser" que, apesar de ser difícil de cultivar no nosso clima quente, sobreviveu bem ao nosso Verão e já está cheia de folhas e futuras flores. 

Pelo meio fiz também um pequeno caminho de pedra ladeado por plantas colocadas de forma bastante informal: narcisos, camomilas, primulas, ipheion, margaridas, crocus, entre outros bolbos e plantas. Como eu queria que o espaço se aproxima-se daquele ambiente informal e natural que se vê nos campos e florestas, deixei o espaço propositadamente "descuidado" para permitir o surgimento de plantas selvagens.


Narcisos "Winston Churchill" e "Ice Follies"

Narciso "Ice Follies" a acordar.

Leucojum aestivum

Narcisos "Ice Follies" e "Mount Hood"

Anemonas blanda e de Caèn por entre os troncos de oliveira.

As cores da camomila combinadas com os narcisos. Uma ideia a continuar nos próximos anos. 

Anemona blanda

Narciso "Mount Hood"

Anemona de Caèn

Anémonas a crescerem entre os troncos de oliveira.

Muscari armeniacum com uma Prímula em pano de fundo.

Camomilas com uma Prímula atrás.
Camomilas e Prímulas a ladear o caminho de pedra. 

Ciclamen




sexta-feira, 6 de março de 2015

A importância medicinal do solo

Nesta publicação eu poderia exemplificar o caso de uma pessoa, em casa, que diz para alguém que está com ela que vai à farmácia. E, para espanto da pessoa que fica em casa, a pessoa que saiu não pegou nas chaves do carro para ir à farmácia, mas sim na sua pá de jardinagem e foi meter as mãos na terra. Estranho não?

Na realidade não. Um estudo publicado na revista "Neuroscience" chamado “Identification of an Immune-Responsive Mesolimbocortical Serotonergic System: Potential Role in Regulation of Emotional Behavior” e que data já de 2007, mostra que existe uma associação benéfica entre a bactéria Mycobacterium vaccae existente no solo, e a saúde mental e física humana. A base do estudo partiu uma da vez mais da percepção de que o aumento significativo de doenças nas últimas décadas, como as alergias, de devia à progressiva esterilização dos ambientes em que vivemos. 

De acordo com a equipa de investigação, liderada por Christopher Lowry da Universidade de Bristol, Reino Unido, esta bactéria tende a reforçar o sistema imunitário humano e a aliviar os sintomas da depressão. A bactéria, ao entrar no corpo humano, induz o corpo a aumentar a produção de serotonina, que é responsável pela sensação de felicidade. 

Bem, para nós, jardineiros, ver a ciência falar disto como um facto comprovável deixa-nos inevitavelmente como um sorriso na cara. É quase como se nos falassem de algo que para nós já não é novo, mas desta vez com a força e respeito da ciência. Não há nada como o repouso interior que se sente depois de um dia bem passado entre a terra, plantas e árvores. Em verdade, nunca ouvi falar de jardineiros (por paixão e não apenas por profissão) que sofressem de depressão. Creio que faltava apenas um toque de ciência para comprovar aquilo que o nosso instinto sempre nos disse. 

Há uns tempos, estava eu a ver o documentário da BBC "The Lost Gardens of Heligan", no qual, a certa altura, Tim Smit, o proprietário da quinta, falava, como quem fala de coisas importantes transformando-as em coisas naturais, que o suicídio era algo particularmente raro entre os jardineiros e que, entre eles, reconhecia a existência de uma calma e ritmo que irritaria qualquer um. 

Ainda um outro estudo, desenvolvido por Dorothy Matthews e Susan Jenks, defende que existe um relação entre o contacto com a Mycobacterium vaccae e o aumento da capacidade de aprendizagem. 

Curiosamente, dei por mim a investigar mais o assunto e deparei-me com um estudo da Fundação Champalimaud, liderado por Zachary Mainen, que concluiu que existe uma associação positiva entre a paciência e o aumento de serotonina. Uma vez mais identifico-me com estudo. Por vezes falo com outras pessoas sobre o prazer que é cuidar de plantas e do solo. Muitas dizem-me que nunca teriam paciência para esperar meses até que uma planta produza o resultado esperado, seja flor ou fruto. Bem, eu raramente penso sobre o resultado final, porque aquilo de que realmente gosto é do processo e do prazer que me dá ver uma planta nascer, cuidar dela, olhar por ela e vê-la torna-se feliz e adulta. 

Acho que gosto mais do momento em que, de uma pequena semente emerge uma planta. E para algumas, isso requer mesmo muita paciência. Muitas plantas, como as anémonas japonesas, podem levar meses a nascer. As clematites podem levar 2 anos a nascer; e um trilium, caso o consigam fazer germinar, pode levar 7 anos até dar flor. Isso sim é muita paciência. Mas quando germinam....que sensação...que alegria....quase parece que se subiu não um degrau, mas um andar na arte da horticultura. Mas no fim, prefiro não contar estes pormenores aos mais impacientes, porque aí é que acho que eles não iriam perceber nada desta paixão pelas plantas.

Mas no fim de contas, tudo isto nos mostra o quão importante é preservar a vida existente no solo e adoptar métodos e técnicas agrícolas que não ponham em causa a vida destes organismos. Isto porque não são apenas as plantas e os animais que estão em risco de extinção. O solo produtivo também está em risco de extinção.  


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Soluções engenhosas


No nosso dia-a-dia temos por hábito deitar fora materiais que, com alguma criatividade, poderão ser muito úteis no jardim. E para quem não tem o espaço, recursos ou o dinheiro que gostaria de ter para melhorar o jardim, estes materiais poderão tornar-se numa boa alternativa e, melhor ainda, recicla-se materiais que caso contrário poderiam poluir o meio-ambiente. 

Por exemplo, o cartão (não colorido) é optimo para a compostagem. Outra coisa que também tenho por hábito fazer é reciclar folhas de jornal para fazer pequenos vasos para as plantas. A grande vantagem é que, quando chegar a hora de plantar, basta molhar bem o vaso e plantar directamente na terra sem que as raízes sejam perturbadas. 

As garrafas e garrafões de água são óptimos sistemas de rega gota-a-gota. Se decidir ausentar-se  de casa durante uns dias e tem receio que as suas plantas possam vir a ter falta de água, encha uma garrafa, ou um garrafão caso sejam várias plantas ou o período de ausência seja longo, faça um pequeno furo no fundo e coloque a garrafa em pé sobre o solo. Verá que a água se irá libertar lentamente, permitindo assim à planta ter uma fonte permanente de água durante algum tempo, sem que ela fique encharcada. 

Aqui no meu jardim, como tenho falta de espaço para fazer sementeiras directas de todas as plantas, utilizo os tabuleiros de esferovite da carne que se compra no supermercado como tabuleiro de germinação. Basta apenas fazer alguns furos para drenar bem a água e, em poucos segundos, tenho o problema resolvido. Quando as plantas começam a desenvolver as folhas verdadeiras, coloco-as então num vaso individual. Depois escolho as melhores para colocar no jardim. 

Por outro lado, se gostava de semear algumas plantas, legumes ou flores, e não tem estufa para as proteger do frio e da geada, eis o meu truque. Uma vez mais reutilizo as embalagens da carne do supermercado, mas destas vez as de plástico transparente. Uma, eu utilizo como tabuleiro de germinação e, a outra, utilizo como cobertura. Em poucos segundos tenho uma pequena estufa, que não me custou qualquer dinheiro. Pode ser colocada num parapeito da janela onde apanhe sol ou até mesmo deixada na rua, desde que cole as embalagens com fita-cola. Eu coloco simplesmente um peso em cima por causa do vento. 




No final do Outono semeei duas variedades de alface que, mesmo sendo variedades para cultivo de Inverno, tiveram sérias dificuldades em germinar e crescer com o frio de Dezembro de Janeiro. No final de Janeiro semeei a alface "Rainha de Maio" usando uma destas estufas improvisadas e os resultados foram impressionantes. Oram vejam as diferenças: 



A variedade de trás, a "Rainha de Maio", conseguiu, em menos de um mês desde a sementeira, crescer o dobro em relação às duas da frente que demoraram mais de 2 meses para chegar a este estado. 

À primeira vista pode parecer que esta técnica de sementeira não rende plantas suficientes, mas na realidade, estes três tabuleiros produziram mais de trezentas alfaces. Bastou-me apenas transplantá-las para os tabuleiros alveolares, onde irão agora crescer durante mais um par de semanas até estarem prontas a serem plantadas. É um processo que requer alguma paciência, mas vale a pena porque consegue-se maximizar o espaço e não há desperdício de plantas.








quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Algumas tarefas de final de Inverno


O final do Inverno é uma das épocas mais atarefadas do ano. Há muito para fazer, mas, felizmente, também já há muito para admirar entre as flores que se revelam sem igual nesta época do ano. Entre legumes e flores, eis algumas tarefas que me têm ocupado nos últimos dias. 

Semear tomates, pimentos e beringelas
Tomates "Monserrat" e "Yellow Stuffer" 

- Apesar de ser uma tarefa que normalmente gosto de fazer em Janeiro, estas plantas podem ser semeadas até princípios de Março. A sementeira tardia tem a desvantagem de atrasar a produção em algumas semanas, mas tem a vantagem de já ser feita com tempo mais quente, o que significa que as sementes germinam mais depressa e já não existe o risco sério de geada que possa danificar as pequenas plantas, como aconteceu aos meus pimentos da Hungria em Janeiro; 




Semear legumes de folha, como alfaces, nabiças, espinafres, etc

Alfaces
- Com o tempo a aquecer e a previsão de chuvas durante os próximos meses, este tipo de legumes tende a crescer a um ritmo bastante acelerado. Por esta altura também gosto de semear outras plantas, como rúcula, rabanetes e nabos. Quanto às alfaces, apesar de aparentemente parecerem todas iguais, existem variedades específicas adaptadas a cada época do ano. No início deste mês semeei a minha favorita "Rainha de Maio", uma típica alface de Primavera que tende a estar no seu melhor em finais de Abril. Em paralelo tenho também a "Dourada da Primavera" (tipo Iceberg). Nas alfaces, o mais importante nesta altura do ano é garantir colheitas sucessivas. Como são plantas que se desenvolvem depressa com tempo ameno e humidade, vale a pena semear as nossas variedades favoritas de duas em duas ou de três em três semanas para garantir um abastecimento permanente nos próximos meses. Para a segunda plantação optei pela alface "Folha de Carvalho".  

Preparar a terra para culturas de Verão

- Plantas como os tomates, pimentos, beringelas, batatas, pepinos, curgetes, abóboras, melões, etc requerem terras ricas e férteis. Por isso, vale a pena preparar a terra com algumas semanas de antecedência, através da incorporação de toda a matéria orgânica que for possível dispensar, especialmente porque os legumes tendem a retribuir generosamente toda a atenção que lhes é dada. 

Aquilégia "Mckanna Hybrids"

Fazer manutenção das plantas no jardim

- Por esta altura, com a aproximação da Primavera, são muitas as plantas herbáceas perenes que começam agora a produzir novo crescimento. É o caso dos crisântemos, das aquilégias, dos heleniuns ou das equinácias. Para permitir um crescimento saudável, limpe da planta de todos os restos que estejam secos ou doentes e retire o caules que floriram no ano anterior. No final ficará com uma jovem e viçosa planta. 





Aumente o seu stock de plantas
Helenium (flores amarelas)

- Com as plantas a produzirem novo crescimento, é um boa altura para aumentar o número de plantas que tem através de divisões. Caso estejam congestionadas, esta é uma boa altura do ano para dividir as plantas que produzem florações tardias no Verão e Outono, tais como os crisântemos, os astéres, os heleniuns e também as gramíneas. Mantenha apenas as partes saudáveis da plantas e elimine todas as partes doentes. Plante as novas plantas logo de seguida. 


Cosmos

Semeie flores anuais

- Plantas como as zínias, os cosmos, as ervilhas de cheiro, as petúnias, as cravinas, os cravos túnicos, as rudbeckias ou até mesmo as sécias podem ser semeadas por esta altura para uma floração mais precoce. No final da Primavera poderá fazer uma nova sementeira para ter florações tardias e um Outono mais colorido. 






Vigie o estado dos tubérculos, rizomas e bolbos
Tigridia ferraria

- Embora na zonas mais amenas do sul já seja possível fazer algumas plantações, por aqui vale a pena esperar mais umas semanas para colocar no solo plantas sensíveis ao frio, como as dálias, os gladíolos, as tigrídias, crocosmias, eucomis, galtonias, etc. Por isso, verifique o seu estado. Retire os  bolbos com sinais de apodrecimento para evitar contágios e remova as partes velhas e menos produtivas. 



Faça a manutenção das plantas nos vasos

Brinco de Princesa (Fuschia)
-  Muitos de nós, quer por falta de espaço ou motivos decorativos, acabamos por ter sempre algumas plantas em vasos. Contudo, sem o cuidado certo, essas plantas poderão definhar com o tempo. Por isso, esta é uma boa altura para lhes dar um novo fôlego. Para começar, remova todas as partes secas ou doentes da planta. Retire a planta do vaso sem desmanchar o torrão e verifique se as raízes estão congestionadas ou com sinais de má saúde. Em caso de congestionamento pode dividir a planta ou colocá-la num vaso maior. Caso as raízes tenham sinais de apodrecimento, é porque a drenagem não é a melhor ou porque tem recebido água em excesso. Coloque a planta num vaso maior e, no composto que vai usar, adicione gravilha para melhorar a drenagem. Se a planta mostrar sinais de pouco vigor e folhas amarelas, é porque muito provavelmente a planta está esfomeada. Nos vasos, por mais nutritivo que o composto seja, a sua fertilidade esgota-se num par de meses. Nesta altura, pode dar um novo começo à planta substituindo o composto, ou pode simplesmente adicionar algum fertilizante biológico de libertação lenta ou utilizar um fertilizante biológico líquido rico em nitrogénio/azoto. Chorume de urtigas
é óptimo. É fácil de fazer e é de graça.  
Dália anã "Ideal d'Unwin"

Semeie dálias

- Grande parte dos amantes da jardinagem que tenham por hábito cultivar dálias fazem-no usando os tubérculos da planta. Mas no ano passado descobri que é mais vantajoso e barato semeá-las. Nascem facilmente e se forem semeadas no início do ano, regra geral, produzirão flores logo no início do Verão. No ano passado, as minhas foram semeadas no início de Janeiro e começaram a dar flor logo no final de Maio. Este ano voltei a semear mais. Mas como elas nascem tão bem, agora tenho um problema: tenho imensas!     


Faça o seu fertilizante líquido

- Agora que as plantas nos vasos começam a mostrar sinais de crescimento, há que garantir uma boa nutrição até a planta começar a florir. Para tal, aproveite e embrenhe-se no campo, leve um saco e colha urtigas. De seguida machuque-as dentro de um balde e encha com água. Deixe ficar durante três semanas ou um mês, de preferência tapado por que o cheiro não é para qualquer nariz. Depois disso, voilá, tem um fertilizante líquido rico em nitrogénio/azoto que lhe custou zero. Dilua o concentrado em 0,5L para 10L. 

Mas no meio de tanto trabalho, não se esqueça também de gozar o seu esforço. Por esta altura já há muito para ver. Aproveite os dias de sol para uma leitura ou repouso ao ar livre, ou então saia de casa e aproveite para ver os campos onde há muito a Natureza já está atarefada. 

   

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Transformar o jardim num ecossitema


Acredito que os jardineiros e horticultores devem desempenhar um papel importante face à rápida e alarmante degradação do meio ambiente pela acção humana. A experiência diz-me que, de forma a encaminhar o nosso espaço num rumo sustentável, nada melhor existe que criar condições no nosso jardim ou horta para o desenvolvimento de um ecossistema. 
Na Natureza, o equilíbrio entre plantas e animais deriva da existência de relações interdependentes entre estes. Os caracóis comem plantas; os sapos comem os caracóis; os sapos são comidos pelas cegonhas, as cegonhas morrem, decompõem-se e enriquecem o solo com nutrientes que irão alimentar as plantas, recomeçando assim o ciclo. 

Mas nos nossos jardins e hortas, o elemento em torno do qual tudo gira, é o solo. E o solo deve ser preservado e melhorado ao longo dos anos. Sem um bom solo, a vida animal e vegetal não terá grandes hipóteses de sobrevivência e, no fim, o jardim não será mais do que um espaço estéril. 

Um bom solo tende a ser rico em vida animal, como minhocas, fungos ou bactérias. São eles que transformam a matéria orgânica em alimento para as plantas. Os fertilizantes químicos não fazem isto. Para favorecer o seu desenvolvimento importa enriquecer o solo com muita matéria orgânica e evitar a sua perturbação. É preferível dispor a matéria orgânica sobre o solo de forma a que ela funcione como uma "pele" protectora. Isto evitará a erosão do solo e torná-lo-á mais fácil de trabalhar. 

A matéria orgânica favorece o desenvolvimento de vida no solo e tende a melhorar significativamente a sua estrutura. Lentamente, os animais que existem no solo tendem a "puxar" a matéria orgânica para baixo, quebrando assim as camadas mais duras e aumentando a superfície de crescimento das raízes das plantas. Importa igualmente evitar cavar o solo ou lavrar a terra pois isso destrói a estrutura do solo e perturba a vida nele existe.   

Mas, não importa apenas fomentar o desenvolvimento da vida existente no interior do solo, mas também a que caminha sobre ele: insectos, pássaros, mamíferos ou anfíbios. 

Para os jardineiros e horticultores há dois tipos de insectos benéficos: os insectos predadores, como as joaninhas que comem os afídeos, ou os insectos polinizadores, como as abelhas ou as borboletas, que polinizam as flores das plantas e permitem um boa colheita de frutos. 

Deixar certas partes do jardim intocadas e nelas deixar canas e ramos ocos, plantar flores entre os legumes, ou criar um cantinho com flores do campo, como as papoilas ou os malmequeres, levará os insectos a pensarem que descobriram o paraíso. Permita também que algumas urtigas cresçam no jardim porque elas tendem a ser uma das plantas onde algumas espécies de borboletas constroem os seus casulos. Depois disso, as urtigas são ainda mais úteis porque, por serem ricas em azoto, fazem um excelente fertilizante líquido.    

Além do mais, outros animais, como os ouriços-cacheiros, que adoram comer alguns animais indesejados no jardim, necessitam de locais para hibernar onde não sejam perturbados durante todo o Inverno. Se tiver um canto esquecido no jardim ou uma árvore onde não seja frequente haver pessoas, deixe ficar no chão as folhas que caem das árvores porque eles gostam de dormir todo o Inverno escondidos entre as folhas. Se o fizer debaixo de uma macieira, tanto melhor: eles adoram comer as maçãs que caem das árvores. E no fim de contas, estará a ajudar na preservação de um animal que está em vias de extinção devido à destruição do seu habitat. 

Os pássaros são igualmente preciosos e têm o bónus de presentear o jardim com o seu canto. Plante sebes e árvores onde possam construir os seus ninhos e eles rapidamente farão do jardim a sua casa. Melhor ainda, eles adoram comer os caracóis, as lesmas e as lagartas. Para quê gastar dinheiro em produtos químicos? Melhor controlo biológico não há. 

Mas claro, os pássaros adoram comer fruta. E porque eles se levantam bem mais cedo que nós de manhã, quando olhamos para a horta e jardim, damos conta que eles se anteciparam a nós. Mas há certos truques com os quais os podemos enganar. Eu costumo plantar girassoís junto aos meus morangueiros e árvores de fruta como planta dissuasora. Assim, antes de comerem os morangos, os pássaros optarão mais frequentemente por comer as sementes dos girassóis. Além disso, as abelhas adoram girassóis. Outro truque consiste em plantar arbustos que produzam bagas que os pássaros adoram, como as murtas ou os medronheiros. Mas no fim de contas, haverá sempre mais do que o suficiente para nós e para eles. 

Num ecossistema, a água é sem dúvida o elemento mais precioso para o desenvolvimento da vida animal. Não precisa construir um lago. Basta colocar um recipiente ou um pequeno barril entre as plantas e verá que muito mudará. Isso irá atrair sapos, que por sua vez irão comer as lesmas e os caracóis, e insectos, como as libelinhas. Irá ver também como os pássaros irão adorar ali tomar banho durante os meses quentes.Tenha apenas em mente que os pássaros e outros animais podem afogar-se. Por isso, coloque algumas pedras grandes no interior do recipiente para facilitar a saída de qualquer animal que ali caia por acidente. 

Entre as plantas, muitas tendem a ajudar-se mutuamente. Os cravos túnicos protegem os tomateiros; as couves e alfaces adoram crescer na terra onde foram cultivadas leguminosas porque estas fixam azoto nas suas raízes; a salsa e a cebola protegem a cenoura da mosca. A ideia é evitar ter grandes blocos de plantas porque isso facilita a multiplicação das pragas. É por isso que as monoculturas de legumes tendem a ser alvos fáceis para as pragas porque não existe nenhum tipo de barreira ou dissuasor natural para o seu ataque. Mas se os legumes estiverem intercalados entre si, ou plantados entre flores ou plantas companheiras, os insectos terão mais dificuldade em encontrar as plantas que pretendem. 

No fundo, a construção de um ecossistema pretende copiar a forma de funcionamento da Natureza e utilizá-la em nosso proveito. Com o passar dos anos, o solo irá tornar-se mais produtivo, as plantas crescerão mais saudáveis e não terá que se preocupar muito com os insectos indesejados. Melhor ainda, ao criar espaços com sombra e sol, ao plantar árvores, arbustos e sebes, e introduzir espaços com água irá estar a criar um microclima que favorecerá o crescimento das plantas e o florescimento dos animais. 

E no fim de contas, não há maior contentamento que ver plantas luxuriantes, um jardim colorido, legumes viçosos e carregados de fruto e a vida animal feliz.    

  

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Um cheirinho de Primavera


Dou por mim frequentemente a imaginar a Primavera como uma filha do Inverno que, cansada dos gélidos ventos, dos céus escuros e das paisagens despidas e descoloradas, se revolta contra a austera frieza que o Inverno impõe à terra. 

E, sorrateiramente, ela escapa dos laços frios do Inverno e, com um gentil toque de graciosidade, revela nos céus os primeiros raios de sol há muito contidos, acalma os ventos e polvilha a paisagem com cores, vida e perfume. Mas porque a Primavera é jovem e, por vezes, acanhada, o Inverno, ainda não completamente vencido, tende, por vezes, num derradeiro esforço, a lançar novamente os seus ventos e a escurecer a terra com as suas nuvens. 

Contudo, o seu tempo passou. Os dias pertencem agora aos céus azuis, ao sol luminoso, às àguas que cantam nas fontes, às florestas novamente vestidas de verde e aos prados adornados de cores e aromas. Por agora o Inverno está contido. Contudo, ele voltará, pois não há força nem magia neste mundo que o afaste para sempre.     


Narcissus bulbocodium

Anemona blanda

Crocus tommasinianus "Barr's purple"

Leucojum aestivum

Hyacinthus orientalis "Anastacia"