sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Podas

Nos últimos dois dias, o tempo trouxe simultaneamente vento e chuva. Mas ainda assim há trabalhos a fazer no jardim. E o mais importante da época é, talvez, a poda. Especialmente porque esta semana a lua está em quarto-minguante, a fase lunar perfeita para este tipo de trabalhos. 

Compreendo que a poda seja algo que possa assustar quem não tem conhecimento ou experiência sobre estas matérias. Porém, eu próprio também não tenho qualquer formação em poda e, contudo, fruto de experiências, muita observação e uma boa dose de bom senso, nos últimos dois anos aprendi imenso. 

Para mim, a poda é um investimento para o presente, mas acima de tudo para o futuro. É claro que a principal razão pela qual se poda está associada à produção de fruto. Mas importa igualmente pensar que a poda visa a estruturação da árvore numa forma que promova a sua juventude, vigor, saúde e frutificação. E no final, o resultado que se pretende é uma combinação saudável entre crescimento e frutificação. 

Se a poda for muito radical (e tenho visto casos em que quem poda quase mata a árvore - vejo isso em especial nas oliveiras), a árvore vai reagir de forma a garantir a sua sobrevivência através da produção de imensos novos ramos vigorosos e não frutíferos. Em alguns casos, estes poderão demorar 2 a 3 anos até produzir fruto. Mas se a situação for a aposta e a árvore for abandonada, a árvore tende a perder vigor, envelhece e progressivamente produz menos frutos porque não há qualquer estímulo ao seu crescimento. 

Nestes casos, a solução passa por uma poda de rejuvenescimento que implica uma poda radical de forma a relançar o crescimento da árvore, e criar assim as condições para voltar a produzir fruto. Mas há um senão. Com uma poda destas, a não produção de fruto é quase uma garantia no mesmo ano e, mesmo no ano seguinte, a frutificação poderá ser ainda escassa. Mas é um mal por vezes necessário. 

Pessoalmente, a não ser que o caso seja mais sério, sou adepto de uma poda de rejuvenescimento faseada ao longo de 2 ou 3 anos de forma a evitar a perda completa de fruto e evitar uma reacção agressiva da árvore. E caso a árvore já não tenha uma estrutura funcional que permita um bom arejamento e uma boa iluminação, esta é a oportunidade para voltar a repor a árvore no bom caminho. 

A minha experiência diz-me que as árvores não gostam de intervenções agressivas. Preferem apenas uns pequenos reparos aqui e ali. Mas há algumas regras básicas a reter. Quando olho para uma árvore, a minha intervenção tende a resumir-se à estrutura da árvore, crescimento vertical e crescimento cruzado. 

Dependendo das preferências, pode-se optar por uma estrutura com eixo central (um tronco central com ramos na horizontal) ou em forma de cálice. Claro que os franceses, os grandes mestres da poda, levaram esta arte a um outro nível com o desenvolvimento de técnicas que permitiram conceber novas estruturas para as árvores, e onde cada gema floral recebe uma atenção particular. Independentemente da estrutura adoptada, esta deve garantir um bom arejamento e iluminação de toda a copa. 

No que toca ao corte, limito-me a duas ou três coisas. A preocupação está sempre em remover todo o crescimento vertical porque a produção de fruto é mais profícua nos ramos que crescem na horizontal ou com uma inclinação de 45 graus. Além disso, é também fundamental remover todos os ramos que se cruzam uns com os outros para permitir um melhor arejamento, Desta forma, consigo manter a estrutura da árvore sem grandes intervenções e guio o crescimento no sentido que me interessa. 

Para além disso, basta manter as estruturas de frutificação e limitar os ramos que cresceram no ano anterior àqueles que, no contexto da estrutura da árvore, interessam. São estes novos ramos que irão, ao longo deste ano, desenvolver as gemas florais e dar fruto no próximo ano. Por isso, há que pensar com alguma antecipação de forma a garantir boas colheitas ano após ano. 

Por último, existem as preocupações com a saúde da árvore. A poda deve ser feita preferencialmente em dias frios e secos para promover uma boa cicatrização do corte. Quando se faz o corte, seja com uma tesoura de podar ou serrote, este deve ser limpo e liso e deve-se evitar o corte por "mastigação" do ramo. As árvores tendem a ter dificuldades acrescidas em sarar de cortes mal feitos, e isso deixa-as vulneráveis ao desenvolvimento de doenças. Importa garantir que as ferramentas estão bem afiadas. Se se podar diversas árvores, entre as quais possa haver alguma que padeça de uma doença, como o cancro, deve-se desinfectar bem as ferramentas para evitar o contágio das outras árvores. 

Bom trabalho.  



Na fotografia de cima, e aqui, podem-se ver as gemas florais que irão dar fruto este ano. De forma alguma devem estes pequenos rebentos ser cortados ou removidos sob risco de se perder fruto no Verão.

Estas são as ferramentas que uso. Podem parecer apetrechos desnecessários, mas quando se tem árvores com 4 metros de alturas e às quais é preciso trepar, ter acessórios onde pousar as ferramentas e que se possam transportar com o corpo são muito úteis. Antes disso, a tesoura de podar estava sempre a cair para o chão, o que me obrigava a subir o descer a árvore vezes sem conta. 












Sem comentários:

Enviar um comentário