quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Viver bem no campo com uma economia mais comunitária

Apesar de ter nascido no campo e aqui ter passado a maior parte dos meus anos, nunca me imaginei a viver noutro sítio. Sempre quis viver no campo, viver do campo e viver como o campo. Mas confesso que, por vezes, as vozes mais pessimistas têm alguma razão quanto às difíceis possibilidades de vida no campo. 

Porém, mesmo face às inegáveis dificuldades que hoje o interior atravessa, eu acho que existem todas as condições para se ter uma vida com elevados padrões de qualidade no campo. 

Sem dúvida alguma, a vida no campo é completamente diferente da vida urbana. O campo e a Natureza ensinam-nos a viver de forma pausada, a aproveitar o momento e a não viver de forma tão ansiosa. Mas ao mesmo tempo, mostra-nos que a qualidade de vida transcende as questões materiais. O campo não é um espaço de consumismo. Pelo contrário, aprende-se a viver melhor com menos. Porque o sentido da vida passa a estar nas pequenas coisas, nos momentos a sós ou em conjunto, na partilha e na oferta, na entre-ajuda. E tudo isso é belo por si só. 

Mas no fim de contas, há que admitir que a economia é quem mais ordena. Nos últimos tempos tenho lido muito sobre a economia comunitária. Não, não tem nada a ver com comunismo. A economia comunitária parte do princípio de que é possível existirem outros modelos económicos que podem dar resposta aos desafios do presente. Reconhece ainda a necessidade de princípios e valores éticos subjacentes à actividade económica, e a existência de interdependências entre os indivíduos de uma comunidade e entre estes e a Natureza. 

Na prática, uma economia local pode prosperar criando redes de produção e consumo locais partindo dos recursos existentes e do potencial humano da comunidade. O fundamento deste modelo económico não está na acumulação de capital, nem na produção de multimilionários, ou de empresas top 500. 

Este é um modelo de entre-ajuda, de criação de emprego, de emancipação da comunidade e de valorização das capacidades humanas e dos produtos produzidos localmente. Ao comprar produtos locais, a riqueza por nós produzida permanece na nossa comunidade. Assim, é possível criar postos de trabalho e manter actividades e saberes tradicionais locais que caso contrário poderiam desaparecer. 

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